quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O SUCANEIRO E O PÉ DE MANGA


Confraternização de final no galpão da garagem  das viaturas da sucam.

            Famílias reunidas, churrasco, brincadeiras, presentes e muita, muita cerveja mesmo. Dia de esquecer as diferenças, de se abraçar, de sorrir, de chorar. Mas um fato marcante, naquele dia festivo superou os prantos e deu lugar às gargalhadas e reflexões de o quanto a mente humana está vulnerável ao poder transformador do álcool.

            Um sucaneiro que nunca tinha visto tanta carne e bebida na vida dele resolveu arrumar um jeito de armazenar o que podia no seu estômago. Comeu e bebeu o que podia. Conseguiu mais beber que comer. Isto porque a cada cerveja tomada, em minutos era lançada fora pela urina e abria espaço no estômago do esfamido para mais uma. Só ficava dentro do desvairado o álcool necessário para fazê-lo delirar a ponto de começar a ter atitudes comprometedoras, desde cantadas nas esposas dos amigos a momentos de viadagem para animar a festa. O besta já não conhecia mais ninguém. Trocava o nome de todos. Literalmente chegou ao ponto de chamar periquito de meu loro. Insanidade total. 
          Convencidos, os amigos do alambique ambulante, de que não havia nenhuma condição do Beberrão ficar na festa, resolveram, com muito custo, tira-lo e levá-lo para casa que era bem próxima.

          Cambaleando das pernas e amparado por dois amigos, que também já estavam antenados no álcool, partiram para a missão junto com mais três amigos. Total de cinco.   
          No caminho, já com a visão multiplicada por dois, o cara num delirio inusitado, olha para o lado na calçada e esbraveja:
_ Tá olhando o que oh abestado?
Os amigos rindo perguntam:
_ Ta falando com quem oh maluco?
_ Me solta! Quero saber por que aquele cara ta me olhando e rindo da minha cara!
_ De quem você ta falando? Não tem ninguém ali !
_ Num sassarico desesperado o bebum de língua mole se solta dos amigos e parte pra cima do inimigo imaginário que só ele avistava.
É o efeito alucinógeno do maldito líquido inflamável!
_ Segura o cara maluco!Segura! Diziam os amigos enquanto o pudim de cachaça, se arregaçava de brigar com seu algoz inerte e indefeso.
_ Me ajuda aqui rapaziada o cara e covarde e ta jogando pedra! Reclamava o bebum ao cair sobre sua cabeça os frutos daquela meiga e inofensiva mangueira.
Socos, pontapés, cabeçadas rabo de arraia, golpes de capoeira, kung-fu. Todos os espiritos de artes marciais se manifestaram naquela hora. Parecia luta livre de um homem só. Pavor total dos amigos do cara, que não se atreviam a separar a briga louca! Quando tentam separar, os amigos do louco são confundidos por ele  com a gangue do adversário. Então ele diz:
_Acabou as pedras agora vocês vão me juntar? Pode vir os dez que eu vou arregaçar com vocês.Vem, vem! Eram os cinco amigos do cara.
_ Que delírio meu! Falou um dos amigos.
Já bufando de tanto bater. Cara ralada, mãos sangrando, o sucaneiro se rende ao cansaço e quase desmaiado de tanto álcool, se deixa levar para casa.

            No dia seguinte, com a notícia rolando pelas rádios sucam, todos já sabiam e não acreditavam nos relatos comentados de quem viu e sobreviveu àquela guerrilha sangrenta. Mas eis que surge na portaria do galpão da garagem um farrapo humano cheio de hematomas, esparadrapos, galos na cabeça, mancando como se tivesse sido atropelado por um trem. A cara era de poucos amigos. E isso se confirmou, quando o farrapo encontrou os amigos que estavam com ele no evento e mostrando uma desilusão profunda desabafa:
_ Vocês são uns traíras! Olha como eu to! Porque vocês sumiram e não me ajudaram com aquele cara? Ficaram com medo quando ele chamou mais dez pra ajudar? 
Pasmos e sem acreditar no que ouviram do então sóbrio bebum, perguntaram:
_ Cara você ta falando sério? Não se lembra de nada?
_ Lembro de vocês me deixando sozinho. Mas dei conta viu la?
Risos, gargalhadas frenéticas tomaram conta do ambiente. Um dos amigos resolveu então apresentar ao sucaneiro seu algoz. Quando chegou, Apresentou:
_ Sucaneiro esta e a dona mangueira, dona mangueira este é o sucaneiro que te esbofeteou ontem e quase deixa a senhora sem fruto nenhum. Desculpe o estrago ta bom?

            Um semblante imbecil toma conta do sucaneiro que tem que aguentar as brincadeiras dos amigos até o dia de hoje.
E viva a cachaça! Manga ? nunca mais !

Um comentário:

sucaneiros disse...

Tenho um blog aqui no Rio Grande do Sul sobre a ex-sucam e divertidíssimas histórias sobre nós. Já li algumas de vocês aí. Um abraço e tudo de bom prá vocês do Rio.