terça-feira, 5 de abril de 2011

O SUCANEIRO E O CABÓCLO BEBERRÃO



1995 Mangaratiba/RJ atividade de visita domiciliar.
Quando chegamos ao município fomos hospedados no BRIZOL PÀLACE HOTEL  na praia do saco mais conhecido como CIEP.
            Guardamos as tranqueiras no vestiário  do luxuoso hotel, que também seria nosso quarto coletivo, com camas super confortáveis de concreto, que de dia eram bancos.      Voltamos para rua e ficamos zanzando pela orla, até os alunos hóspedes do dia saírem e deixarem o hotel só pra nós à noite. Que beleza!
Revoltados, os sucaneiros que só querem um motivo para encher a cara e este era um ótimo motivo para isso, encontraram um bar na medida das suas necessidades. Vendia desde fogo paulista à pura cachaça local. Beberam, beberam, beberam até não aguentar mais.
Já tarde da noite, o grupo resolveu voltar e como sempre, trazendo nos ombros o bendido pudim de cachaça que sempre nos deu trabalho.
_ Eu quero morreeeeer! Eu quero morreeeeer! Gritava o ébrio.
_  Cala a boca o escandaloso! Vai acordar os moradores! Repreendeu um amigo.
_  Não me manda calar a boca senão te meto a por... Piiiii.
 Outro amigo brinca:
_Tu não ta aguentando nem um peido e ainda quer brigar?
O bebum busca ajuda:
_Eu não ando sozinho não, ta sabendo? Vou chamar meu protetor.
_Hrum, hrum, misinfio, cê me chamou! Já to aqui! Hum! Hum! Falou uma voz rouca e tenebrosa vindo das cordas vocais do bebum, que curvado, parecia mais um corcunda de Nodre Dame.
Com medo, os amigos largam o cara e como num passe de mágica ele ficou bonzinho da silva com as mãos na cintura dizendo:
_ Quem é que quer maltratar meu cavalo ai?
 Entre risos e medo, sem saber se era sacanagem ou não, a turma para e se questiona:
_ Será que ele ta com o bicho ruim mesmo?
_ HO! meu irmão! Larga de palhaçada e vamos embora! Bronqueou um meio cético.
_Ta falando comigo sem pedir permissão?  Respondeu a entidade dando uma corridinha em direção ao cara. Na dúvida ele também correu para longe.
Risos sem parar, dos outros que assistiam se divertindo.
 O caboclo beberrão olha pra todos ao redor e ordena:
_ Podem ir! Deixa meu cavalo aqui.
_ Sem nenhuma pergunta e com medo, os sucaneiros vão se afastando:
_ Não quero papo com coisa do outro mundo não! Isso dá azar. Falou um sucaneiro medroso saindo pela tangente.
_ E agora? Como vamos fazer esse espírito ir embora pros quinto dos infernos? Falou um amigo do cavalo ébrio.
_ Um espertalhão metido à médium toma a frente:
_ Chá comigo! To acostumado com isso.
Sorrateiramente e com muito jeitinho o metidão começa:
_ Dá licença seu entidade!
_ O que você quer missinfio?  Responde o suposto espírito.
_ Sô da mesma clã e tenho muito respeito pelo senhor seu entidade! Libera o cavalo ai! Ele tem que trabalhar amanha e já é tarde. Libera ai vai!
_ Hruuum! Num sei não misinfio!
A turma que ainda estava no local não se agüentava de tanto rir daquela situação hilária. Chegaram a cair no chão sem forças..
- Libera ai sua entidade! Que te acendo uma vela! Negociou o candidato a pai de santo. -Só vô subi se eles pararem de rir do meu cavalo!
O negociante então dá esporro:
_ Pera ai gente, parem de rir que ele vai liberar! Ta dando certo pô!
_ Então sua entidade! Vai liberar o cavalo agora não vai?
_ Hruuum, num sei não misinfio! Hum! Hum!
Um sucaneiro ateu, muito nervoso, que já havia resolvido problema parecido com o mesmo cara, resolve intervir:
_ Segura a onda do caboclo ai que já volto com a solução.
Em poucos segundos voltou gritando feito louco para sessão do descarrego: _Saaaaaaaaaaaaiiiiii! Sai da frente!
-Slap! pow! tum!, slap!  Só se ouviam onomatopéias.
_ Sai dele agora em nome desse bambu! Sai! Espírito beberrão! SAAAAIII !
Tentaram evitar, mas foi muito rápido!
Alguém exclamou:
_Matou o miserável! Matou!
_Ta doido cara?
_ Não esquenta não, se for espírito ruim não sente dor!
_ Aaaaaaaaaii minhas costas!  Gritou o cavalo.
_ Quem tá ai? Perguntou o exorcista e aspirante a padre quevedo.
Com falta de ar e muita dor, mas agora sóbrio, com muito custo o cavalo responde:
_ Ele já foi! Ele já foi! Para! Ele já foi!
Abalado com a falta de consideração da entidade o bebum reclama:
_Nunca aconteceu isso! Ele sempre ta comigo, mas desta vez ele foi embora, levou minha cachaça e ainda saiu antes de eu levar as pauladas. Ai que dor!
Não tivemos condições de dormir naquela noite dada as circunstancias do ocorrido.
O cavalo?
Dormiu do lado de fora no gramado da escola,  pra ver se aprendia a beber menos.




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